segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O meu Natal

Sempre despertou em mim uma magia especial.

Era Natal, e era suposto dizer-mos que somos felizes e que tudo vai bem. Era tão utópico quanto obrigatório acreditar que por um dia tudo estava bem.

E por um dia, todos acreditamos.

Devo ter sido um crente na elaborada teoria do pai natal durante uma mão cheia de anos. Uma ou duas.

O primeiro Natal que me lembra a memória terá sido pelos meus três, quatro anos.

Do carro de bombeiros da loja do senhor Segura que não recebi, do primeiro presépio que me lembro de fazer, um Baltazar cuja cabeça fiz questão de partir, mas nem por isso deixava de figurar em tão belo quadro.

Um baú cheio de recordações. Uma delas, talvez a mais nostálgica, a minha avó que fazia filhós junto à lareira, me ensinava a arte de colocar açúcar e canela, me dizia Não comas que ainda está quente, e me fitava com aqueles olhos marotos quando não comia de boca fechada.

O meu Natal era assim. Continua a ser, porque nós, pequenos caminhantes, temos o dom mágico de guardar para sempre o que nos convém.

Dizia eu, O meu Natal era assim. E sempre o senti muito meu.

Lembro-me de a mesa ser pequena para tanta gente, mas havia sempre, sempre lugar para quem mais viesse. Também para ouvir teorias sobre o fim dos tempos dos meus avós A saúde isto A saúde aquilo E para o ano talvez já por ca não estejamos. Mas estavam. A sapiência popular não é a ciência exacta que faz crer.

Ao longo dos anos vi desaparecer alguns pratos da mesa, deixei de ter companhia na lareira e com isso, sem filhós onde pôr açúcar e canela. O baltazar já tem cabeça, mas já não é o mesmo dos meus três, quatro anos. O pinhal onde me aventurava em busca de musgo já não existe.

Olho para trás, para todos os meus natais e vejo que certamente não terão sido os mais ricos, os mais tradicionais, ou mesmo os melhores. Mas foram sempre os meus natais. E essa pequena crença fez com que todos os natais fossem perfeitos.

Este natal provavelmente não seria um dos meus natais. Não vai ser o mesmo, não vai ser o que quis, mas será com quem quero, porque sempre foi assim.

Não terei o meu pai comigo, companhia de todos os outros natais, e por isso será estranho. Menos um prato na mesa. Mesa que terá mais espaço, mas onde os meus olhos e as minhas recordações continuarão a ver a mesma mesa de tantos outros natais.

Sempre houve momentos que marcaram o natal.

A figura de barbas brancas marcou boa parte deles. Marcou quando ainda não era associada ao consumismo, quando a inocência apenas a invocava como simbolo mágico e unico da quadra.

Talvez nunca tenha querido deixar de acreditar. Mas no meu pai natal.

E acredito que um dia ele me deixa o carro de bombeiros no sapatinho ;)

feliz natal

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